Estamos acostumados a reconhecer a qualidade de certos produtos em razão da região onde foram elaborados
Estamos acostumados a reconhecer a qualidade de certos produtos em razão da região onde foram elaborados. Por exemplo, ao se falar em queijo, vem à mente aquele produzido na Serra da Canastra, em Minas Gerais. Quando o assunto é cacau, destaca-se o Sul da Bahia. Tais regiões, que geralmente são extensas, são chamadas de Indicação de Procedência (IP) e refletem o reconhecimento de país, cidade ou região que se tornaram notórios pela extração ou fabricação de um produto ou prestação de um serviço.
Na Europa as IPs, nas mais diversas áreas, são regulamentadas há séculos. Em nosso país tal conceito apareceu pela primeira vez na legislação em 1996, na Lei de Propriedade Industrial (LPI), que as divide em duas modalidades: a Indicação de Procedência (IP), propriamente dita, e a Denominação de Origem (DO), que é concedida quando as características de um produto ou serviço resultam de influência do meio geográfico (o terroir) de um país, cidade ou região, incluindo fatores naturais e humanos. No Brasil quem reconhece uma região pela qualidade de seu produto ou serviço é o Instituto Nacional de Propriedade Industrial – INPI, depois de um longo processo.
Em relação aos vinhos, a Europa também está séculos à nossa frente. Em 1756, ano seguinte ao grande terremoto de Lisboa, o Marquês de Pombal determinou a demarcação da região do Douro, como sendo o único local onde seria autorizada a produção do Vinho do Porto. Este ato é defendido por muitos como sendo a criação da primeira Denominação de Origem de vinhos devidamente documentada. Embora os Italianos sustentem que seria a de Chianti. Há milhares e milhares de DOs de vinhos na Europa. No Brasil somente uma: Vale dos Vinhedos, no Rio Grande do Sul. Embora esteja associada a Bento Gonçalves, ela também alcança outros municípios. Não basta que a uva e o vinho tenham sido produzidos nesta região demarcada. É necessário também cumprir requisitos específicos para o cultivo dos vinhedos, produtividade e qualidade das uvas que serão vinificadas. A D. O. Vale dos Vinhedos está autorizada a produzir vinhos finos tranquilos (sem borbulhas), brancos e tintos, e espumantes. O tinto, quando preparado com uma única casta, para receber em seu rótulo o nome desta D. O., deve ser elaborado obrigatoriamente com a uva Merlot, com o mínimo de 85%. Mas os blends também são autorizados, com as uvas Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc e Tannat, desde que contenham, no mínimo, 60% de Merlot.
Os espumantes são destaque no Vale dos Vinhedos. São elaborados exclusivamente pelo método tradicional, semelhante ao utilizado em Champagne, com a segunda fermentação na garrafa, nas classificações Nature, Extra-brut e Brut. As uvas Chardonnay e/ou Pinot Noir são de uso obrigatório, com no mínimo de 60%. Por sua vez, nos vinhos finos brancos, a Chardonnay é de uso obrigatório (no varietal tem de ter, no mínimo, 85%), podendo ter blend com a Riesling Itálico (mínimo de 60%).
Em suma, pode-se afirmar que em nenhum outro lugar é possível fazer um vinho Merlot ou Chardonnay como os que saem do Vale dos Vinhedos, no Rio Grande do Sul, em razão de suas características próprias, do terroir e da maneira como são produzidos.
Indico o Gran Chardonnay D.O., produzido pela Valduga, 100% Chardonnay, tendo a safra 2021 alcançado 14% de álcool. Entrega aromas envolventes de frutas tropicais maduras como abacaxi e carambola envolvidas por notas de chocolate branco e baunilha. As duas últimas surgiram em razão da maturação de 12 meses em barricas e foudres de carvalho francês.
Quanto ao tinto, minha sugestão é o Miolo Merlot Terroir 2020. Em função da sua graduação alcoólica chegar a 15%, recebe também a classificação de Vinho Nobre. Apresenta taninos elegantes e aveludados, com destaque para aroma de cereja, acompanhado por notas de caramelo, cacau, café e baunilha, decorrentes do estágio de 12 meses em carvalho, seguido de mais seis em garrafa, antes de ser lançado no mercado.
Ambos são de ótima qualidade e bem representam o Vale dos Vinhedos (D. O.), mas não são baratos. O branco está na faixa de R$ 150,00, enquanto que o tinto supera R$ 200,00.
Saúde e um forte abraço!
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