Foto: Rio Douro e Vista parcial dos socalcos
Lá estávamos nós, de braços dados dentro do moinho, indo e voltando, ao ritmo da música.
No café da manhã o assunto ainda era o delicioso Porto 20 anos degustado na tarde anterior no Majestic Café, quando Toninho perguntou: Será que não tem uma vinícola perto da cidade que nós possamos visitar? Afinal, estamos na cidade do Porto.
— Infelizmente, não! — disse Rosinha, que pediu para que eu explicasse o porquê.
Atendi ao pedido: Porto é uma das mais antigas regiões vinícolas demarcadas do mundo, foi estabelecida pelo Marquês de Pombal, em 1757. Todas as vinhas estão a mais de oitenta quilômetros a leste da cidade do Porto, na região chamada Douro. Há centenas de anos o vinho é produzido no Douro e, até décadas atrás, era transportado em barquinhos chamados Rabelos, pelo rio Douro, até a Vila Nova de Gaia, onde era armazenado. O que mudou atualmente é a forma de transporte.
Perplexo e decepcionado Beto questionou: “Então, mas por que o vinho leva o nome da cidade do Porto?”
Com calma, esclareci: Porto e Vila Nova de Gaia são separados pelo Rio Douro. Basta atravessar uma das pontes e chega-se às grandes caves, onde está repousando o vinho. O nome Porto foi dado em razão de ser a cidade de maior destaque e porque o Marquês de Pombal determinou que o vinho somente pudesse ser exportado saindo do porto da cidade do Porto, com destino à Inglaterra, que era o principal importador.
Dei alguns telefonas e sugeri um passeio. Todos abraçaram a ideia como se própria fosse. Em menos de meia hora estávamos no interior de uma van rumo ao cais de Vila Nova de Gaia. Em instantes adentramos a um grande barco e zarpamos em direção à cidade de Peso da Régua.
A navegação foi tranquila e ainda na parte da manhã passamos duas eclusas. O Almoço a bordo foi maravilhoso, bacalhau acompanhado de vinho Branco do Douro. A paisagem mudou, a calha do Rio Douro ficou ladeada por íngremes colinas e já se via os vinhedos, que, segundo o guia, o plantio começou há séculos. Foi necessário quebrar as pedras de xisto à mão e construir terraços, os socalcos, que vistos de longe parecem escadarias gigantescas esculpidas nas colinas. Cada socalco é sustentado por um muro de pedra. Tal beleza foi reconhecida como Patrimônio da Humanidade pela Unesco.
De Peso da Régua fomos levados rapidamente por uma van para uma Quinta, nome que recebe a maioria das vinícolas no Douro, onde, de imediato, nos conduziram ao interior de um casarão centenário, com paredes de quase meio metro de largura e amplos janelões de madeira. Meus companheiros pensavam que iriam, tão somente, degustar um bom Vinho do Porto, mas a surpresa foi sem tamanho quando viram o lagar de granito repleto de uvas. Era uma como uma pequena piscina, feita com muretas de aproximadamente um metro de altura, com dimensão de quatro por oito metros. Um senhor grisalho e sorridente, que não deixava de enrolar as pontas de seu bigode, ordenou alegremente: Estão atrasados, no vestiário tem camiseta e shorts. Cinco minutos e a música vai começar…
E começou. Eram três músicos, com guitarra, harmônica e bombo para dar a marcação, e um deles, com voz rouca, começou a cantar: “Rosinha”
“Ó minha Rosinha eu hei-de te amar
De dia ou de noite, de noite ao luar.
De noite ao luar, de noite ao luar,
Ó minha Rosinha eu hei-de te amar.”
Lá estávamos nós, todos de braços dados no interior do lagar, indo e voltando, no ritmo da música, pisando o mosto, que chegava à altura do joelho, mas com o movimento até o início da coxa ficava tinta.
Ninguém escondia a emoção. Paula, tal qual criança, não parava de rir, apesar do cansaço. Toninho, o mais animado, puxava os movimentos e não deixava ninguém perder o compasso. Beto, derramando seu coração, olhava para Rosinha a cada vez que a música repetia o nome dela. Rosinha? Ah! Rosinha, não escondia as lágrimas, realizava um sonho que nunca havia confessado.
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